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Perda de áreas úmidas afeta populações de cervo-do-pantanal

O monitoramento das populações de cervo-do-pantanal nas áreas úmidas da bacia do rio Paraná tem sido realizado por um grupo de pesquisadores da Embrapa Pantanal e da Universidade Federal do Paraná, desde 2002. O trabalho tem documentado um rápido declínio dessa espécie que é considerada globalmente ameaçada de extinção e que também consta na lista oficial das ameaçadas do Brasil, na categoria Vulnerável.

O estudo vem sendo coordenado pelos pesquisadores Walfrido Moraes Tomas (Embrapa Pantanal) e Liliani Marilia Tiepolo (UFPR), e os dados vêm sendo obtidos por meio de levantamentos aéreos nas maiores áreas úmidas na bacia do rio Paraná, com o objetivo de estimar o tamanho das populações, bem como conhecer as tendências populacionais, tanto estabilidade, quanto aumento ou declínio. De 2002 a 2009, esses levantamentos foram financiados pela Companhia Energética de São Paulo (CESP), como condicionante da implantação de usinas hidrelétricas na região e, em 2019, foi contemplado com a aprovação de projeto e vem sendo apoiado pela Fundação Grupo Boticário.

Levantamentos apontam redução no número de animais

O resultado dos levantamentos indica que há um declínio substancial na população destes animais.  Em 2002, na região de várzeas do rio Paraná – onde se localizam o Parque Nacional de Ilha Grande – PNIG (78.875 ha) e o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema – PEVRI (73.345 ha), no Mato Grosso do Sul – essa população foi estimada em 1550 cervos em uma área total de cerca de 4.000 km2. No levantamento de 2019, as estimativas mostraram que restam menos de 700 cervos, num declínio de mais de 50% na maior população da espécie em toda a bacia do rio Paraná no Brasil. 

Esse resultado é preocupante uma vez que a população monitorada é a única que restou de uma ampla área geográfica, que incluía os cerca de 1000 cervos que existiam rio acima, e que foi perdida pelo enchimento do reservatório da Hidrelétrica Sergio Motta (Porto Primavera) em meados da década de 1990. “Por isso, a população de cervos que vem sendo monitorada, por ser a maior que se manteve na bacia do rio Paraná após a década de 1990, é relevante para a espécie em toda essa área, que inclui quase todo o estado de São Paulo, e do Paraná, o sudoeste de Minas Gerais, o centro-sul de Goiás e todo o leste do Mato Grosso do Sul”, detalhou Tomas.

Os pesquisadores encontraram uma relação forte entre o declínio da população na região do PNIG e do PEVRI com a drenagem artificial das áreas úmidas, o principal ambiente dos cervos. Além disso, a intensidade da estação seca nos 4 anos anteriores a cada levantamento, em conjunto com a drenagem, parece ter potencializado o efeito negativo nas populações de cervos. A explicação para isso é que, em função da dieta especializada do cervo, a drenagem reduz a extensão e a duração das inundações, e reduz substancialmente as áreas úmidas durante a estação seca, diminuindo drasticamente os habitats onde os recursos para a espécie se mantêm.

O pesquisador da Embrapa relata que, atualmente, estima-se que existem menos de 1500 cervos espalhados em toda a bacia do rio Paraná no Brasil. “É um número perigoso, especialmente porque esses animais encontram-se em pequenas populações isoladas umas das outras, e ainda são sujeitos à caça furtiva, ao ataque de cães domésticos e doenças. A perspectiva para a conservação da espécie é ruim, e a restauração das áreas úmidas modificadas por ação humana pode ser uma saída para minimizar esses problemas. No entanto, a eficácia dessas ações para a recuperação de habitats e a conservação da espécie ainda precisa ser mais bem avaliada”, destacou Walfrido.

Cervo-do-pantanal

Maior cervídeo sul-americano, chegando a pesar 140 quilos, o cervo-do-pantanal é uma espécie que evoluiu para a vida em ambientes inundáveis ou encharcados, e se alimenta de plantas aquáticas e ou aquelas que toleram inundações periódicas. Ocorre ao sul da Floresta Amazônica, a leste dos Andes e vai até a Argentina, nas proximidades de Buenos Aires.

Está extinto no Uruguai e quase extinto em diversos estados brasileiros. A maior população conhecida encontra-se no Pantanal. Essa dependência de áreas úmidas torna essa espécie vulnerável a qualquer alteração desses ambientes que interfira no regime hidrológico, como a extensão e a duração do período de cheia, bem como a extensão e a duração do que resta de áreas ainda úmidas na estação de seca. 

Áreas Úmidas

Áreas úmidas são todos os ambientes localizados na zona de transição entre áreas permanentemente terrestres e áreas permanentemente aquáticas, e que podem ser sujeitas a inundações periódicas. Encaixam-se nessa categoria os varjões, as lagoas, os brejos, os banhados, as veredas e as planícies de inundação ao longo dos rios, bem como os campos inundáveis por chuvas locais ou extravasamento dos rios. Entram também nessa lista os mangues.

“Essas áreas são de altíssima relevância para a humanidade, e algumas das grandes civilizações antigas dependiam desses ambientes para sua sustentação, como o Egito a Mesopotâmia. As áreas úmidas cobrem apenas 6% da superfície da Terra, mas o valor dos serviços ambientais que prestam corresponde a 46% do valor de todos os ecossistemas do planeta juntos, o que é assombroso” detalha Walfrido Tomas, pesquisador da Embrapa Pantanal.

A Dra. Liliani acrescenta que as áreas úmidas são fundamentais para a regulação das cheias dos rios, para a reprodução de peixes, para manter e melhorar a qualidade e a quantidade da água, para a regulação climática bem como para a manutenção da biodiversidade como um todo. “Não é por acaso que esse é o único tipo de ecossistema para qual existe um acordo internacional, assinado ainda na década de 1970, e que leva o nome da cidade iraniana onde a primeira convenção sobre áreas úmidas ocorreu, Ramsar. Ela é conhecida como a Convenção de Ramsar, da qual o Brasil é signatário, e visa à conservação e uso sustentável das áreas úmidas ao redor mundo”, informa a professora.

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Via Embrapa Pantanal

Foto: Jean Fernandes

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