Os moradores de uma vila de pescadores do rio Miranda, no Pantanal, amanheceram neste fim de semana preocupados com a cena que viram: o rio estava coberto por troncos de árvores, galhos, além de muito barro. A situação, tal como foi vista, foi tida como atípica pelo grande volume de matéria orgânica trazido com as chuvas, e parece ser, segundo pesquisadores, consequência do desmatamento, haja vista que não são raras as denúncias da prática ilegal na região.
No local onde foi visto esta cena vivem famílias de uma associação de pescadores e coletores de isca profissionais do município. De acordo com o biólogo e diretor da Ecoa, André Luiz Siqueira, os moradores já denunciam há algum tempo o desmate da mata ciliar, o não cumprimento do Código Florestal e o extremo assoreamento em alguns pontos do rio. “Trabalhamos há pelo menos quinze anos com esta população e nunca vimos o rio desta forma. O rio Miranda é o território de pesca e de vida destas pessoas, e muitos são considerados guardiões dos rios do Pantanal”, explica.
Como o Pantanal está em seu período de cheias há o risco de que mais sedimentos como este desçam e sobrecarreguem o rio, que é de extrema importância para a economia do Mato Grosso do Sul, haja vista seu potencial turístico, agricultura irrigada e abastecimento urbano. Por isso, se faz necessário investigar as causas deste acontecimento. “É preciso pensar mais profundamente na saúde dos rios e responsabilidades precisam ser atribuídas”, conclui Siqueira.
Embora a Polícia Militar Ambiental (PMA) tenha iniciado os trabalhos para a limpeza do leito do rio ainda no final de semana para que o fluxo de navegação pudesse ser normalizado, especialistas dizem que é preciso pensar no problema como sistêmico, investigar as causas e fazer valer a legislação, para que tais episódios não se repitam com a frequência como vem ocorrendo.
Atualização – A partir de imagens de drone e verificação no local, representantes do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) divulgaram um laudo técnico no final desta terça-feira (14) com a origem do material encontrado no rio. Segundo o laudo, o deslocamento da vegetação seria resultante de um “fenômeno natural” agravado pelas chuvas.
Para ler o laudo técnico, acesse aqui.
Fotos: Nilza Bandeira/APAIM