Incêndios causam impactos além dos ambientais – comprometem a saúde e a renda de comunidades extrativistas
O Pantanal voltou a queimar. Desde a noite de ontem (27), moradores de Porto Esperança, distrito localizado na margem esquerda do rio Paraguai, a 70 quilômetros de Corumbá (MS), estão lidando com fogo descontrolado, ar irrespirável e com a perda de vegetação que representa a renda dos que trabalham com o extrativismo. Os danos ambientais ainda não podem ser dimensionados, uma vez que o fogo se alastra rapidamente, e os prejuízos econômicos também são incalculáveis, o que preocupa os membros da associação, que manejam os recursos naturais e dependem da atividade para o sustento de suas famílias.
Vivem hoje na comunidade cerca de 48 famílias. São crianças, adultos e idosos, que encontram na natureza, fontes de subsistência. Das iscas, do pescado e dos frutos, buscam formas para sobreviver em equilíbrio com o meio, em um ambiente adverso, que é o Pantanal.
De acordo com relatos de membros da comunidade, ninguém sabe como o fogo teria começado. O que se sabe é que foram vistos focos próximo a um hotel que fica acima de Porto Esperança e que, ao amanhecer, havia macacos fugindo do fogo, se escondendo no pátio da escola. Com o calor, o fogo parece ter se alastrado rumo às palmeiras de Acuri mais próximas da comunidade, onde fazem a coleta.
Natalina, da Associação de Mulheres Produtoras de Porto Esperança, informou que o fogo já causou uma devastação enorme. “O fogo está consumindo tudo muito rápido devido ao vento Norte. Felizmente, não atingiu a comunidade ainda, já que ela fica descendo ao rio do lado direito e o fogo está do lado esquerdo. Mas o ar está impossível de respirar, as crianças estão sendo mantidas dentro de casa, assim como os idosos, porque a fumaça está tomando conta de tudo”, comentou a moradora.
As queimadas são um problema crônico no Pantanal e, em geral, associado ao desmate. Este não parece ser o caso de Porto Esperança, segundo o diretor-presidente da ECOA, André Luiz Siqueira, que conhece bem a área e que suspeita que os incêndios tenham não tenham causas naturais. “Não podemos fazer alegações, mas é muito provável que os incêndios sejam criminosos e investigações precisam ser feitas urgentemente pelas autoridades”, reforçou.
Siqueira reitera que, além do problema ambiental que os incêndios causam, é preciso olhar para os grupos marginalizados, invisíveis, que são muito afetados com as queimadas. “A queima de acuris, bocaiúva, jatobás, barús – do Cerrado e Pantanal – que tem acontecido muito nos últimos meses, tem prejudicado uma economia pujante e muito significativa que é a do extrativismo, na qual estes grupos mais vulneráveis do Pantanal, no caso as comunidades tradicionais, estão incluídos”, explicou Siqueira.
O Prev-Fogo e a Brigada Pantanal têm trabalhado incessantemente para atender as demandas na região. No entanto, ainda não se sabe quando Porto Esperança será atendido. “Já atuamos diversas vezes em Porto Esperança este ano. Agora estamos no Passo do Lontra e no Morro do Azeite. Infelizmente, nosso contingente é limitado em Corumbá e não sabemos quando poderemos atuar lá”, informou o coordenador do Prev-Fogo, Marcio Yule.
Enquanto isso, a comunidade fica à mercê, esperando que as autoridades tomem providência. E faz o que pode, com as próprias mãos, para controlar o fogo e se proteger.
Foto: Natalina/Associação Mulheres Produtoras de Porto Esperança