O pedido foi feito em forma de carta, publicado na prestigiada revista BioSciences, deste mês
Por Michael Kepp, EcoAméricas
O Pantanal, uma das maiores áreas úmidas de água doce do mundo, pode enfrentar um colapso ecológico, econômico e social devido aos efeitos cumulativos de decisões aparentemente isoladas. O alerta foi feito por quatro pesquisadores em uma carta publicada este mês na revista BioScience.
Na publicação, os cientistas brasileiros disseram que “ainda há esperança” para o Pantanal, que ocupa uma enorme depressão geológica na bacia do alto rio Paraguai, na América do Sul. Mas eles alertaram para o impacto coletivo dos projetos de desenvolvimento existentes e planejados para a região, apontando especificamente para a construção de barragens a montante e para um projeto de dragagem fluvial planejado para facilitar o transporte de barcaças de grãos pela região.
“O uso sustentável [do Pantanal] não pode ser prejudicado pelas consequências de pequenas decisões que não consideram seus impactos cumulativos, comprometendo o futuro da pecuária sustentável, pesca, ecoturismo, comunidades tradicionais, biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, afirmam.
A carta foi escrita em coautoria por cientistas da Embrapa Pantanal, unidade de pesquisa do Ministério da Agricultura do Brasil; ICMBio, braço do Ministério do Meio Ambiente que fiscaliza as áreas protegidas federais; o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), uma organização brasileira de pesquisa sem fins lucrativos; e o escritório brasileiro da Panthera, um grupo global de conservação de felinos selvagens.
Embora o Pantanal tenha 179.000 quilômetros quadrados (69.112 milhas quadradas) no Brasil, Paraguai e Bolívia, a carta se concentra na porção brasileira do bioma, que enfrenta a maior pressão de desenvolvimento.
Essa porção, localizada no oeste do Brasil, corresponde a 80% do Pantanal total, cobrindo 140.000 quilômetros quadrados – uma área aproximadamente do tamanho do estado de Nova York. É delimitado pelo Cerrado, uma savana extensa ao sul da Amazônia brasileira e, mais especificamente, pelos planaltos do Cerrado da bacia do alto rio Paraguai, uma rede de rios de quatro países.
O escoamento da água da chuva do Cerrado, cuja maior parte da precipitação se origina na região amazônica, enche os rios que fluem para dentro e ao redor do Pantanal. A água cobre até 80% do Pantanal vários meses por ano, com o tempo de inundação variando de local para local.
Segundo os pesquisadores, pequenas e grandes barragens construídas na porção brasileira da bacia do alto rio Paraguai estão entre as principais ameaças ambientais ao Pantanal. Nas últimas duas décadas, empreendedores privados e o governo construíram um total de 50 barragens na região, aproveitando a mudança de altitude nas bordas dos planaltos para gerar energia hidrelétrica.
Os cientistas explicam que as barragens bloqueiam o fluxo de sedimentos no Pantanal – tanto a variedade inorgânica, como areia e argila da água, quanto a orgânica, por exemplo, da decomposição de madeira e plantas. Eles apontam que as barragens também cortam o suprimento de nutrientes a montante da planície de inundação, como nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio.
Leia mais aqui.