A pesquisa de correlação espacial do uso econômico do Pantanal foi liderada pelo Fernando Tortato, pesquisador da Panthera Brasil, organização-membro do Observatorio Pantanal. Segundo o estudo, é possível conciliar as práticas da pecuária extensiva e do ecoturismo com a conservação da onça-pintada no Pantanal. O artigo foi publicado na revista Scientific Reports, no dia 23 de novembro.
“Nossos dados indicam claramente condições altamente favoráveis para a conservação de onças-pintadas, em todo o ecossistema, no Pantanal, uma vez que a principal atividade econômica nesse bioma (pecuária extensiva) apresenta uma sobreposição espacial muito baixa com importantes redutos de onças. Além de aumentar a renda local, o ecoturismo aumenta as oportunidades econômicas diversificadas nas escalas terrestres e regionais, e auxilia na manutenção tanto das populações de onças-pintadas quanto de seu habitat”, afirmam os autores no artigo.
“A pecuária extensiva e o ecoturismo são atividades econômicas compatíveis mesmo dentro da mesma propriedade e deve ser incentivado para facilitar a convivência entre onças e humanos”, enfatiza Fernando Tortato.
De acordo com a pesquisa, a prática do ecoturismo já foi utilizada em outros cenários de conflito humano-vida selvagem envolvendo felinos e gado. Os Países de savana na África vêm desenvolvendo turismo de vida selvagem há várias décadas, e podem ser usados para avaliar os benefícios que o ecoturismo tem gerado para a conservação dos grandes felinos.
Entender a relação entre onças, pecuária e ecoturismo em terras privadas é fundamental, especialmente porque 93% do Bioma no Brasil são áreas privadas e cerca de 80% estão em grande parte alocadas para a pecuária bovina.
“Nossos resultados corroboram com outros estudos que mostram a importância do Pantanal para a conservação de onças-pintadas a longo prazo. A pecuária tradicional convive com as onças há mais de 200 anos e qualquer discussão sobre a viabilidade a longo prazo das populações de onças-pintadas no Pantanal envolve inextricavelmente apoiar iniciativas que possam manter a viabilidade financeira das práticas tradicionais de pecuária”.
A seca e o fogo são uma ameaça
A pesquisa também informa que é preciso ficar em alerta em relação aos incêndios que tem ocorrido no Pantanal. “Nossos resultados demonstram que, nos últimos quatro anos, a incidência de incêndios florestais tornou-se gradualmente mais severa no habitat da onça-pintada de alta qualidade”. Sem a ocorrência das inundações a pecuária intensiva pode avançar no bioma sobrepondo os habitats das onças-pintadas, ocasionando o aumento do conflito homem-onça-pintada.
Ações da Panthera Brasil
O conflito homem-onça-pintada sempre esteve presente no Pantanal e por este motivo pesquisadores e organizações atuam no território para conhecer a situação e propor ações que minimizem o conflito e não haja prejuízos econômicos e ambientais. Desde sua fundação, em 2014, a Panthera Brasil atua no Pantanal com objetivo de conservar as onças-pintadas. As ações de pesquisa, educação ambiental e articulação com produtores rurais são realizadas na região de Porto Jofre, no Mato Grosso e têm obtido ótimos resultados.
Foto: André Dib WWF-Brasil