Hidrelétricas, destruição das nascentes, desmatamento e avanço das lavouras de soja com uso intensivo de agrotóxicos são ameaças constantes para o Pantanal e a cada dia fica mais eminente. Para discutir consequências de tudo isso no Rio Paraguai e no Pantanal foi realizada uma audiência pública e sessão especial conjunta da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e da Câmara Municipal de Cáceres, no dia 12 de novembro.
O Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc) e o Instituto Gaia, organizações-membro do Observatorio Pantanal, participaram do evento e destacaram o problema da seca.
Débora Calheiros do Fonasc destacou os riscos de alterar o ciclo de cheia e seca do Rio Paraguai e afetar a planície de inundação do Pantanal. “Não podemos alterar a hidrodinâmica da água nesse trecho do tramo norte do Rio Paraguai para construir uma hidrovia. Outro problema são as mais de 60 pequenas centrais hidrelétricas (PCH) que já existem na bacia, além de outros 120 projetos de PCHs”, citou.
“É difícil pensar na água como direito humano se esse direito está sendo retirado de nós. Com as mudanças climáticas, ou vem seca ou vem muita tempestade e todas as águas são perdidas. A escassez hídrica já é uma realidade no Pantanal”, alertou a pesquisadora Solange Ikeda, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e do Instituto Gaia.
Antes da solenidade, comitês populares navegaram em expedições para verificar a situação de rios da bacia: Jauru, Sepotuba, Cabaçal, Cuiabá e Paraguai. “Nós tivemos a felicidade e a infelicidade de visitar rios riquíssimos na nossa região, que são responsáveis pela produção de várias espécies de peixes. É triste ver os pescadores chorando porque não tem mais mata, nem água, nem peixe”, relatou o agricultor Nilo da Silva, do Comitê Margarida Alves, de Mirassol D’Oeste.
Monocultura e agrotóxicos
Franciléia Paula de Castro, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, citou a pesquisa que monitorou a presença de agrotóxicos em rios da bacia que alimenta o Pantanal. “Os resultados são alarmantes: essas comunidades estão amplamente expostas a agrotóxicos e estão cercadas por monoculturas. Diversos venenos proibidos na União Europeia, justamente por apresentarem risco à saúde humana e ao meio ambiente, foram encontrados nas águas para consumo em rios, em minas, em tanques para piscicultura”, disse.
“Vocês sabem, tanto quanto eu, que as nossas águas estão sendo destruídas por veneno. O que falta para que as pessoas tenham sensibilidade e parem com esse ideal de acúmulo? Precisamos cuidar do que a natureza nos dá de graça. O projeto político que busca o lucro desenfreado é a causa de tudo isso”, desabafou Miraci Pereira da Silva, moradora do assentamento Roseli Nunes, em Mirassol D’Oeste.
A audiência e sessão especial foi conduzida pelo deputado estadual Lúdio Cabral (PT), pela vereadora Mazéh Silva (PT) e pelos ambientalistas Isidoro Salomão e Vanda dos Santos.
Com informações da ALMT