Entre janeiro e julho de 2020, foram registrados no bioma de Mato Grosso do Sul, cerca de 3.179 focos, superando o ano de 1998, segundo o Inpe
A atenção se volta novamente para o Pantanal e as notícias não são positivas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi registrada no Pantanal do Mato Grosso do Sul a maior quantidade de focos de incêndios desde 1998 – 3.179 focos entre janeiro e julho deste ano. Uma imagem de satélite identificou que, em apenas dois dias, aproximadamente 7 mil hectares foram consumidos nessa região, sendo alguns deles de origem criminosa e outros causados por fatores climáticos.
Mas os incêndios não estão somente no lado brasileiro. Os vizinhos – Paraguai e Bolívia também estão sofrendo com o fogo, que ultrapassa a região de fronteira com o Brasil. De acordo com o diretor de Mudanças Climáticas e Políticas, do WWF Paraguay, Oscar Ignácio Rodas, no momento existem muitos focos de incêndio, que se estendem para além do Pantanal, chegando até a parte mais ao sul, conhecida como Chaco Úmido, próximo às cidades de Concepción e Fuerte Olimpo. Essas áreas, assim como o Pantanal, estão bastante secas e os pastos sem água.
O fato se repete na Bolívia, que também está trabalhando incansavelmente para identificar os focos rapidamente e combatê-los. Neste mês, a área queimada no Pantanal da Bolívia ultrapassou os 5 mil hectares. Para o gerente de projetos de manejo ao fogo da Fundação Amigos da Natureza (FAN), Carlos Pinto, além da dificuldade de acesso em muitas áreas, há também a necessidade de limitar o número de pessoas na linha de frente, por conta da pandemia. “Temos cerca de 20 pessoas trabalhando no combate aos focos. No entanto, há outro risco a ser considerado se utilizamos um contingente maior de brigadistas, que é o perigo do contágio do Covid-19, tanto entre a equipe, quanto entre eles e a população das comunidades próximas”, explicou.
No lado brasileiro, além da região da Serra do Amolar, que tem apresentado nos últimos meses vários focos de incêndio em áreas de difícil acesso, também a zona urbana, como a cidade de Corumbá (MS), na divisa com a Bolívia, sofre com a fumaça dos incêndios.
Ao que tudo indica, o segundo semestre pode ser ainda mais crítico com a temporada da seca. Por isso, os trabalhos de prevenção e, não só de combate ao fogo, são importantes. Neste sentido, o Observatorio Pantanal, que reúne atualmente cerca de 37 instituições-membros, nos três países, está organizando uma campanha de prevenção e combate aos incêndios no Pantanal. “Apoiaremos de duas formas: conscientizando a população dos perigos desta prática e fomentando a criação de brigadas comunitárias no Pantanal através de mapeamento de atores e doação de equipamentos de combate ao fogo”, explicou Paula Isla, analista de conservação do WWF-Brasil, membro Observatorio Pantanal.
Em relação à campanha de conscientização dos incêndios, o Observatorio Pantanal está preparando spots de rádio que serão veiculados nas principais emissoras, tanto do lado brasileiro, quanto paraguaio e boliviano, além de um vídeo que visa informar à população urbana sobre a situação das queimadas em áreas protegidas e regiões distantes das cidades.