Povos tradicionais
O Pantanal abriga um rico passado arqueológico com sítios reconhecidos de três tradições culturais: a tradição Pantanal, a tradição Tupiguarani e a tradição Descalvados. A ocupação da Bacia do Alto Paraguai data de oito mil anos e sofreu forte influência de culturas migratórias dos Andes, do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil e da Amazônia. A intensificação da ocupação das áreas alagáveis ocorreu há dois mil anos.
O primeiro sítio arqueológico registrado no Pantanal foi o letreiro da “Gaíva”, encontrado na Baía Gaíba (ou Gaíva, como era grafado no passado), uma das primeiras do Alto Pantanal. O sítio está em uma região reconhecida por exploradores europeus do século XVI como densamente povoada e onde hoje existem diversas pesquisas arqueológicas sobre a ocupação e a vida dos primeiros habitantes do Pantanal.
Foi nessa área, entre as baías Guaíba e Uberaba até a confluência do rio Jauru com o Paraguai, que foram escavados inúmeros aterros com sítios-cemitérios, construídos pelos primeiros habitantes do Pantanal, antes do século VIII. A região é conhecida como o possível território dos povos Xaraiés, Orijone, Bororo, Guató entre outros povos indígenas pré-coloniais do Pantanal.
O modo de vida indígena e muito das tradições desses primeiros habitantes ainda resistem na cultura dos ribeirinhos pantaneiros, principalmente os elementos relacionados aos povos Guató. Grandes canoeiros e pescadores, conhecidos como os argonautas do Pantanal eram exímios caçadores de onças. O uso da “zagaia” – uma espécie de lança com a qual se caçava onças-pintadas no passado – também é atribuído a esses povos.
A primeira cidade do Pantanal foi Santiago de Xerez (1580) que surgiu às margens do rio Miranda, em Mato Grosso do Sul. A cidade sofreu com a falta de abastecimento e constantes ataques indígenas até 1632. De suas ruínas surgiu a Missão do Itatim, quando se inicia o domínio Jesuíta no rio Paraguai. As missões foram assoladas por grandes secas e doenças como a peste. Em 1647 as Moções Paulistas, expedições da Coroa Portuguesa que buscavam novos territórios, ouro e índios, dominam esse território e expulsam os Jesuítas.
Com a descoberta de ouro nas Minas do Cuiabá e em Vila Bela da Santíssima Trindade, o rio Paraguai torna-se um caminho definitivo das Monções e a La Laguna de Los Xarayés passou a ser conhecida definitivamente como o Pantanal.
Homem Pantaneiro
A cultura do homem pantaneiro surgiu cerca de 200 anos, após a ocupação definitiva do território do Alto Pantanal, com as fundações das cidades de Vila Maria (1748), hoje Cáceres, e a Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá (1719), atual capital do Estado de Mato Grosso. Foi durante esse período que os índios passaram a serem atraídos e integrados na formação das primeiras cidades do Pantanal. As nações que se recusaram, foram dizimadas nas intituladas “Guerras Justas”.
As sesmarias são as concessões de terras destinadas pela coroa portuguesa para produção agrícola, e no Pantanal datam da primeira metade do século XVIII e foram concedidas pelo governador da capitania de São Paulo, Rodrigo César de Meneses, entre 1726 e 1728. Uma das primeiras ações deste capitão general foi oficializar posses e incentivar apropriações de terra para a produção agrícola e criatória no Pantanal.
Entre 1880-1960 surge outro polo importante de pecuária no Pantanal, quando João Carlos Pereira Leite funda a fazenda Descalvados, em outro importante ponto de povoação do Alto Pantanal, na região que hoje é Cáceres, com fácil acesso ao transporte fluvial dos produtos e exportação para a Europa.
As comitivas são um sistema de manejo do gado para as porções altas do Pantanal, e foram um eficiente mecanismo para garantir a sobrevivência dos grandes rebanhos durante as cheias históricas, como as das décadas de 1960 e 1970.
No passado a prática era coordenada por grupos de vaqueiros que lideravam longas viagens de rebanhos pelas baías do Pantanal até Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde o gado era comercializado.